Exposição SER | 22.09.22 – 23.10.22

Tudo tem o seu tempo e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: assim os antigos advertem desde o começo e, mais que antes, o mundo funciona cada vez mais alheio a essa certeza.

Este novo projeto de Gustavo Zylbersztajn vem nos lembrar que a vida opera em ciclos, existir é passar por transformação contínua e é precisamente quando se desacelera que se aproveita o instante.

Um a um, o fotógrafo fez o convite aos modelos, depois vieram os dias de registro com sua câmera analógica e digital e luz natural na sala e no jardim de casa. O seu olhar buscou capturar ângulos insuspeitados, nas faces e nos corpos encontrou expressão para afetos e angústias, indo do amadurecer até o nascimento. Os dias mais tarde foram de dedicação solitária à edição das imagens, ao preparo dos químicos e aos muitos testes de impressão, etapas transcorridas após anos de pesquisa técnica e experimentação com ampliações, texturas de papel e erros de processo.

Entre a paciência e o entusiasmo, a criação se realizou a partir da pausa e da busca do distinto, tornando impossível fazer do mesmo modo cada uma das imagens. Com tal intensidade esteve atento à criação, que veio organicamente o gesto de incorporar elementos da natureza às fotografias – as borboletas e as orquídeas trazem seu efeito de irrealidade concreta, de celebração da metamorfose e do retorno ao movimento.

Tanto quanto aconteceu com o fotógrafo, o observador também é convidado a aproveitar o instante. Ao atravessar o túnel, vai interromper seus passos neste local que, de início, fora construído para ser apenas de passagem. Na contemplação dos retratos, sob efeito da luz e do som, notará a beleza inequívoca que há na imperfeição e no inusitado. E desta linguagem fotográfica que surgiu para exaltar a reprodutibilidade, encontrará uma obra executada como fosse pintura a óleo e que não admite cópia idêntica – assim como é cada um de nós vivendo os nossos próprios ciclos.